A lavanda, com seu perfume característico e flores de tonalidade lilás, é uma planta muito admirada e cultivada ao redor do mundo. Conhecida principalmente por suas propriedades calmantes e seu uso em fragrâncias, a lavanda é uma escolha popular tanto para jardineiros quanto para aqueles interessados em suas aplicações terapêuticas.
É possível confundir a lavanda (Lavandula angustifolia, principalmente) com outras espécies do gênero Lavandula, como lavandina (Lavandula x intermedia) ou lavanda francesa (Lavandula stoechas), que é um híbrido entre a lavanda comum e a lavanda latifolia. É importante distinguir entre essas variedades, pois elas podem possuir propriedades e aplicações ligeiramente diferentes, especialmente quando utilizadas em óleos essenciais ou na culinária.
Taxonomia e Classificação Científica
- Nome científico: Lavandula angustifolia
- Família: Lamiaceae
- Gênero: Lavandula
- Espécie: L. angustifolia
- Divisão: Magnoliophyta
- Classe: Magnoliopsida
- Ordem: Lamiales
O gênero Lavandula tem aproximadamente 47 espécies conhecidas, e angustifolia é apenas uma delas. A taxonomia da lavanda é fundamental para botânicos e horticultores porque fornece orientação sobre como cultivar e usar corretamente as plantas para fins ornamentais, culinários ou medicinais. Além disso, muitas pessoas confundem lavanda e alfazema, que pertencem ao mesmo gênero e têm propriedades diferentes. Em Portugal e algumas regiões do Brasil, a lavanda recebe o nome de alfazema.
Origem e Distribuição Geográfica
A lavanda é nativa da região mediterrânea, do norte e leste da África, do sudoeste da Ásia até a Índia. Ela se desenvolve bem em climas quentes e ensolarados e em solos bem drenados, tornando-se uma planta perene em muitas dessas regiões. Ao longo do tempo, a lavanda foi naturalizada e cultivada em várias partes do mundo, especialmente na Europa e na América do Norte, onde é utilizada tanto em jardins domésticos quanto em produções comerciais.
Seu cultivo não está limitado à sua região nativa, mas a qualidade do óleo essencial pode variar significativamente dependendo do ambiente onde for plantada.
Etimologia e Nomenclatura
A palavra “lavanda” tem suas raízes no latim “lavare”, que significa “lavar”, uma referência ao uso comum da planta em banhos, devido ao seu aroma agradável e propriedades antissépticas. A lavanda tem sido valorizada ao longo da história não apenas por suas qualidades olfativas, mas também por sua aparência, com a palavra “angustifolia” em seu nome científico descrevendo suas folhas estreitas e alongadas.
Descrição Botânica
A lavanda é uma planta subarbustiva que cresce até um metro de altura e tem uma base lenhosa. Suas folhas são verdes, estreitas e alongadas, com uma textura levemente aveludada ao toque. As inflorescências (conjunto de flores) são compostas de pequenas flores tubulares que variam do azul pálido ao roxo intenso. A floração ocorre principalmente durante o final da primavera e o verão, atraindo uma variedade de polinizadores, como abelhas e borboletas.
A planta se adapta melhor a um clima temperado e precisa de pleno sol para florescer. Embora seja resistente à seca, a lavanda prefere um solo bem drenado e pode sofrer em condições de umidade excessiva, que podem levar ao apodrecimento das raízes.
Nomes Populares da Lavanda Planta
A planta é conhecida por vários nomes regionais, além do nome comum “lavanda”, que geralmente se referem a suas qualidades aromáticas ou usos tradicionais, como “alfazema” em algumas regiões de Portugal. A Lavandula angustifolia tem vários sinônimos botânicos, incluindo Lavandula officinalis e Lavandula vera. Esses sinônimos são menos comumente usados, mas ainda podem ser encontrados em escritos antigos ou em algumas localidades. Segue a lista com alguns dos nomes populares:
- Lavanda inglesa;
- Lavanda francesa;
- Lavanda brasileira;
- Alfazema;
- Alfazema verdadeira,
- Nardo;
- Lavanda fina;
- Lavandula.
Propriedades e Usos Medicinais
A lavanda é conhecida por sua capacidade de acalmar e relaxar o corpo e a mente. A composição química da lavanda é rica em óleos essenciais que contém diversos compostos que contribuem para seus efeitos terapêuticos. Estudos científicos têm investigado o uso da lavanda no tratamento da ansiedade, distúrbios do sono, e até mesmo no alívio da dor e em aplicações antissépticas.
Aspirar o cheiro de lavanda costumava ajudar a relaxar e dormir, mas pesquisas recentes confirmaram o uso do óleo essencial para algumas dessas funções, que pode ser eficaz também na redução da ansiedade.
Métodos de Preparo e Recomendações de Dosagem
O óleo essencial de lavanda é talvez a forma mais conhecida de uso medicinal da planta. No entanto, as flores secas também podem ser utilizadas para fazer chás. Para preparar um chá de lavanda, recomenda-se infundir de 1 a 2 colheres de chá de flores secas em uma xícara de água fervente por cerca de 5 a 10 minutos. Este chá pode ser bebido antes de dormir para ajudar a promover um sono tranquilo.
É importante notar que a dosagem do óleo essencial deve ser feita com cautela, pois ele é muito concentrado. Geralmente, apenas algumas gotas são suficientes para aromaterapia ou para uso tópico quando diluído em um óleo carreador.
Cuidados e Contra Indicações
Enquanto a lavanda é geralmente considerada segura para a maioria das pessoas, é importante estar ciente de possíveis efeitos colaterais, como irritação da pele quando o óleo essencial é aplicado topicamente, sem a diluição adequada. Além disso, pessoas com histórico de alergias a plantas da família Lamiaceae devem proceder com cautela.
Interações medicamentosas podem ocorrer, especialmente se a planta for usada em conjunto com sedativos ou medicamentos para dormir, potencializando seus efeitos. Mulheres grávidas, lactantes e crianças pequenas devem consultar um profissional de saúde antes de usar lavanda medicinalmente.
Pesquisa e Curiosidades Históricas
A pesquisa científica tem se aprofundado no potencial terapêutico da lavanda. Estudos clínicos indicam que o óleo essencial de lavanda pode ter um efeito ansiolítico, ou seja, pode ajudar a reduzir a ansiedade. Além disso, há estudos de diferentes efeitos produzidos pela planta.
Outro campo de estudo, por exemplo, se concentra na atividade antimicrobiana da lavanda, onde foi observado que seus componentes podem inibir o crescimento de diversas bactérias e fungos. Essas descobertas abrem caminho para o uso da lavanda em tratamentos alternativos para infecções e na conservação de alimentos.
A história da lavanda é muito rica. Na Roma Antiga, as flores de lavanda eram adicionadas à água dos banhos, e seu nome deriva justamente dessa prática. Durante a Idade Média, acreditava-se que a lavanda purificava o corpo e a mente, e ela era comumente usada em sachês para afastar odores desagradáveis e como um desinfetante natural.
Uma curiosidade interessante sobre a planta é que, durante o Grande Surto de Peste na Europa, uma mistura infundida com ervas, incluindo a lavanda, era usada pelos médicos como uma forma de proteção contra a doença, o que culminou no famoso “Vinagre dos Quatro Ladrões”.
Durante a devastação causada pela doença, surgiu a lenda do “Vinagre dos Quatro Ladrões”, uma mistura que teria conferido imunidade a um grupo de ladrões, que saqueavam os túmulos dos mortos e casas dos doentes, sem jamais adoecer. Segundo o folclore, ao serem capturados, os ladrões negociaram sua liberdade em troca do segredo de sua resistência: um mix aromático dado por uma bruxa, supostamente preparado com ervas e um encantamento. Apesar da execução dos ladrões e da alegação de magia negra, a medicina da época adotou o vinagre, adicionando ingredientes como a canela.
Com a evolução da ciência, hoje compreendemos que muitas das ervas usadas na composição do vinagre, incluindo a lavanda, conhecida por suas propriedades antissépticas, eram, de fato, desinfetantes naturais e repelentes de insetos portadores de doenças (dentre eles as pulgas). A receita do vinagre, enriquecida por diversas variações ao longo da história, foi amplamente usada em tempos de epidemias.
O interesse pelo “Vinagre dos Quatro Ladrões” persistiu ao longo dos séculos, tendo sido destacado pelo doutor francês Jean Valnet, especialista em aromaterapia, em sua obra de 1964. Ele apresentou uma versão da fórmula que incluía ervas como artemísia, lavanda e alho, escolhidas por suas propriedades na prevenção de doenças e remoção de toxinas. Ainda que a autenticidade da receita permaneça incerta, a relação entre as propriedades dos ingredientes e a prevenção de doenças é inegável, refletindo a poderosa influência das ervas na medicina tradicional e moderna.
Ainda hoje, pode-se adquirir blends (misturas) de óleos essenciais compostos pelas ervas da receita do vintage. Seu uso principal é na limpeza de casas e de energias, através de difusores de ambiente.
Receitas e Aplicações Culinárias
Embora seja mais conhecida por suas aplicações em produtos de cuidados pessoais e terapêuticos, a lavanda também encontrou seu caminho para a cozinha. Flores de lavanda são usadas para infundir açúcar, criar geleias e xaropes, ou para temperar pratos salgados. A chave para cozinhar com lavanda é usar com moderação, pois seu sabor intenso pode rapidamente dominar outros sabores.
Um exemplo clássico de uso culinário é a inclusão de lavanda em misturas de ervas provençais, trazendo um aroma floral levemente adocicado a assados e grelhados. Além disso, a lavanda é usada em sobremesas, como sorvetes e bolos, embelezando os pratos e conferindo sabor.
Chá de lavanda ou alfazema, no canal Chá e Cia – Produtos Naturais do Youtube
Bolo de Lavanda e Limão
Ingredientes:
- 1 xícara e meia de farinha (trigo)
- meia xícara de manteiga amolecida
- 1 xícara de açúcar granulado
- 2 ovos grandes
- 1/4 xícara de leite
- Raspa de 2 limões
- 1 colher (sopa) de sumo de limão
- 1 colher e meia de chá de fermento (pó)
- 1/4 colher de chá de sal
- 2 colheres de chá de flores de lavanda secas comestíveis
Para a Cobertura:
- 1 xícara de açúcar de confeiteiro
- 2 colheres (sopa) de sumo de limão
- meia colher de chá de extrato de lavanda (opcional)
Modo de Preparo:
Pré aqueça o forno a 180°C. Unte e enfarinhe uma forma de bolo. Acrescente a manteiga e o açúcar e bata até obter um creme fofo e claro. Acrescente os ovos, um por vez e batendo bem.
Pronto, agora é hora da farinha, o fermento, o sal e as flores de lavanda secas devem ser misturados. Adicione os ingredientes secos, alternadamente com o leite, ao creme de manteiga, começando e terminando com a mistura de farinha. Adicione cuidadosamente a raspa e o sumo de limão. Despeje a massa na forma e asse por cerca de 30 a 35 minutos ou até que um palito inserido no centro saia limpo.
Para a cobertura, misture o açúcar de confeiteiro e o sumo de limão até ficar homogêneo. Adicione o extrato de lavanda, se estiver usando. Deixe o bolo esfriar completamente antes de desenformar e regar com a cobertura.
Limonada de Lavanda
Ingredientes:
- 1 xícara de açúcar
- 5 xícaras de água, divididas
- 1 colher de sopa de flores de lavanda secas comestíveis
- 1 xícara de sumo de limão fresco
Modo de Preparo:
Em uma panela pequena, combine o açúcar com 1 xícara de água e as flores de lavanda. Aqueça em fogo médio e mexa até que o açúcar se dissolva totalmente. Deixe ferver por um minuto, depois desligue o fogo e deixe a mistura infundir até esfriar. Coe a calda de lavanda para remover as flores.
Em uma jarra grande, misture a calda de lavanda com o sumo de limão e as 4 xícaras de água restantes. Sirva a limonada gelada, decorada com rodelas de limão e decore com uma pequena ramificação de lavanda (opcional).
Bruschettas de Lavanda e Mel com Queijo
Ingredientes:
- 1 baguette, cortada em fatias
- 200g de queijo de cabra macio (ou outro queijo de sua preferência)
- Mel a gosto
- 1 colher de chá de flores de lavanda secas comestíveis
- Azeite de oliva extra virgem
- Pimenta preta moída na hora
Modo de Preparo:
Pré aqueça o forno a 180°C. Coloque as fatias de baguette em uma assadeira e regue com um pouco de azeite de oliva. Leve ao forno até as bordas começarem a dourar, cerca de 5 a 10 minutos.
Retire do forno e espalhe uma camada generosa de queijo em cada fatia. Regue com mel e polvilhe com flores de lavanda e uma pitada de pimenta preta. Sirva imediatamente enquanto o pão está crocante e o queijo ainda está macio.
Usos Alternativos e Aplicações Ornamentais
A lavanda, conhecida pelos seus tranquilizantes tons de azul e lilás, não é apenas um deleite visual em jardins e arranjos florais, mas também possui uma gama de aplicações alternativas. Em cosméticos, o óleo essencial da planta é amplamente incorporado em produtos como cremes, shampoos e óleos de banho, aproveitando suas propriedades relaxantes e seu perfume reconfortante. A lavanda é também um ingrediente chave em muitos produtos de skincare, ajudando a acalmar a pele irritada e a reduzir a vermelhidão.
Na aromaterapia, o óleo de lavanda é um dos mais utilizados, promovendo a calma, a redução da ansiedade e facilitando um sono mais profundo e restaurador. Sachês de lavanda secos são uma adição bem-vinda em armários e gavetas, não só para perfumar roupas e lençóis, mas também para afastar insetos como as traças.
No jardim, a lavanda serve como uma excelente planta ornamental, atraindo polinizadores como abelhas e borboletas. Além disso, a planta pode ser usada como uma planta companheira, pois seu aroma forte é pensado para repelir uma variedade de pragas, beneficiando plantas vizinhas como rosas e uvas.
Dúvidas Frequentes sobre a planta Lavanda
1 – O que torna a lavanda diferente de outras plantas?
A lavanda é distintiva pelo seu aroma característico e pelas suas flores de cor lilás. Além disso, tem uma ampla gama de usos, desde propriedades medicinais até aplicações culinárias, sem falar no seu valor ornamental.
2 – Posso cultivar lavanda em casa?
Sim, a lavanda pode ser cultivada em casa. Ela precisa de um solo bem drenado e bastante luz solar. Se você mora em um clima mais frio, pode ser necessário cultivá-la em um vaso dentro de casa ou em uma estufa durante os meses mais frios.
3 – A lavanda só pode ser usada para fins aromáticos?
Não, a lavanda tem muitos usos além dos aromáticos. Ela pode ser usada medicinalmente para ajudar no alívio do estresse e da ansiedade, e na culinária, suas flores podem ser usadas para dar sabor a doces e pratos salgados.
4 – O óleo essencial de lavanda é seguro para todos?
O óleo é geralmente considerado seguro, mas deve ser usado com cautela. Pessoas com peles sensíveis devem diluir o óleo antes do uso tópico e sempre realizar um teste de alergia. Grávidas, lactantes e crianças devem consultar um médico antes do uso.
5 – Como posso usar lavanda para melhorar o sono?
Você pode usar óleo essencial de lavanda em um difusor no seu quarto antes de dormir ou aplicar algumas gotas diluídas nos pulsos. Além disso, sachês com flores de lavanda sob o travesseiro são uma opção popular.
6 – A lavanda pode ser consumida, é comestível?
Sim, as flores de lavanda são comestíveis. No entanto, é importante usar uma variedade culinária e começar com uma quantidade pequena para evitar um sabor muito forte.
7 – Qual é a melhor forma de armazenar lavanda seca?
Guarde lavanda seca em um recipiente hermético, longe da luz direta e da umidade para preservar seu aroma e propriedades.
8 – Existe alguma contra indicação para o uso da lavanda?
Pessoas com alergia a plantas da família Lamiaceae devem evitar a lavanda. Além disso, a lavanda pode interagir com medicamentos sedativos e alguns outros medicamentos, portanto, é aconselhável consultar um médico se você está tomando medicação.
9 – Como posso diferenciar a lavanda verdadeira de outras espécies parecidas?
A lavanda verdadeira (Lavandula angustifolia) tem um perfume mais suave e folhas estreitas. Outras espécies, como a lavandina e a lavanda-francesa, têm um aroma mais forte e aspectos botânicos distintos, como a forma e o tamanho das folhas.
10 – A lavanda atrai insetos para o jardim?
Sim, a lavanda é conhecida por atrair polinizadores benéficos como abelhas e borboletas, mas também pode ajudar a repelir mosquitos e traças quando usada em sachês.
Referências
Maria Lis-Balchin (2002). Lavender, The Genus Lavandula (inglês). Taylor & Francis;
Andrew Chevallier (2016). Encyclopedia Of Herbal Medicine (inglês). Dorling Kindersley Limited.;
Emma Callery (1994). The Complete Book of Herbs: A Practical Guide to Growing and Using Herbs (inglês). Courage Books;
Maud Grieve (1971). A Modern Herbal, Vol. I (inglês). Dover Publications.